A história da Diocese de Guiratinga remonta ao início do século XX quando foi criada a Prelazia de Registro do Araguaia em 12 de maio de 1914, pelo Papa Pio X, por meio de decreto da Sagrada Congregação Consistorial , a partir de território desmembrado da Arquidiocese de Cuiabá, e entregue pela Santa Sé aos cuidados dos salesianos da Sociedade de São Francisco Sales.
Compartilhar:

O primeiro bispo prelado foi DOM ANTÔNIO MALAN – SDB (1914-1924) com o qual a Missão salesiana se estendeu para vários lugares de Mato grosso, especialmente junto aos povos indígenas. De acordo com dados da Missão salesiana, em 1914 foi criada a Prelazia de Registro do Araguaia e os salesianos assumiram a paróquia da sede devido aos trabalhos que já desenvolviam na região, especialmente junto aos povos indígenas. De acordo com documento elaborado por D. Sebastião Assis de Figueiredo, em 1915 D. Antônio Malan constituiu a paróquia de Araguaiana ( atualmente pertence à a Barra do garças) e em 1920, a paróquia de Alto Araguaia. Em 1921 foi criada a paróquia de Santa Rita do Araguaia onde, por dois anos, o Prelado fixou sua residência.
De acordo com João Carlos Vicente Ferreira, a fundação de Guiratinga ocorreu por volta de 1920, com a fixação da família do Sr. Augusto Alves às margens do córrego Lageadinho e a preocupação deste senhor na demarcação de lotes e organização do povoado que mais tarde ficou conhecido pela denominação de “Povoação do Lageado” e pertencia ao município de Santa Rita do Araguaia. Devido à presença de garimpos na região, muitas pessoas se mudaram para o povoado que em 25 de setembro de 1929 foi elevada à categoria de “Vila Lageado” e no dia 29 de março de 1938 passou à condição de município de Lageado. No entanto, como já existia uma cidade gaúcha com este nome, foi realizada um assembleia e por meio do Decreto-Lei Estadual nº 545 de 31 de dezembro de 1943 a cidade passou a se chamar definitivamente Guiratinga que em tupi-guarani significa “garça branca”.

No período de 1924 a 1937 a Prelazia do Registro do Araguaia foi dirigida pelo Administrador Apostólico MONS. JOÃO BATISTA CONTURON, salesiano, francês que assumiu a Prelazia em um período em que esta contava com uma população de cerca de dez mil habitantes (brancos e indígenas) e muitas dificuldades devido às revoltas nas regiões de garimpo. Na Ata de posse, datada de 20 de dezembro de 1925, o governador da Prelazia, Dom Henrique Gasparri apresentou o Monsenhor João Batista à população do registro do Araguaia em nome da Sta. Congregação Consistorial .
Pelas correspondências transcritas no livro de registros da Prelazia, o Monsenhor João Batista dedicou especial atenção à Paróquia São José, de Sangradouro, coordenada pelos padres salesianos onde também foram desenvolvidas várias atividades voltadas para o trabalho vocacional de rapazes e moças da região. Consta nos registros que em agosto de 1926 foi realizado o primeiro Congresso de Vocações Sacerdotais na Prelazia.
De acordo com as correspondências da época, Dom Conturon desejava ampliar os limites da prelazia devido ao aumento do número de fiéis na região. Foram criados curatos, algumas paróquias (em Guiratinga, Poxoreo, Cassununga e Tesouro) e estabelecidos cruzeiros nos povoados de garimpos. A região atendida abrangia os seguintes municípios, distritos, povoados e aldeias: Sangradouro, São Pedro, Laginho, Campo da Esperança, Poxoréo, Curraes, Alto da Mancha, Passagem do Poxoréo, Firmeza, Arminhas, Barra do Coité, Córrego Rico, Capim Branco, Coité, Cassununga, Cassununguinha, Tesouro, Lageado, Barracão Queimado, Figueira, Aldeia, Retiro e Manchão da Roça.
Cuidou de modo particular da evangelização dos índios Xavante e Carajás e das comunidades que surgiam a cada dia no leste matogrossense. Em 1925 a Prelazia contava com um território de 175.000 quilômetros quadrados; 15 sacerdotes; 18 irmãos coadjutores e 18 irmãs para atender a três mil habitantes “civilizados” e uma tribo de índios Bororo. Estavam em funcionamento naquele ano: 02 missões indígenas; 04 paróquias; 05 igrejas; 02 colégios para indígenas e 01 colégio para os demais habitantes.
Em 1931, graças ao empenho de Mons. João Batista Couturon foi construída a 1ª escola da cidade , destinada à formação escolar das meninas da região, sob denominação de “Instituto Santa Terezinha” e coordenada pelas Irmãs Salesianas.
Mais tarde recebeu a denominação de “Escola Santa Terezinha” e continuou com o método preventivo de D. Bosco. Monsenhor João Batista Coturon administrou a Prelazia até o ano de 1937 quando, acometido por grave doença, retornou para a Europa onde faleceu.

Em substituição ao Monsenhor João Batista Coturon, assumiu a Prelazia o Bispo DOM JOSÉ SELVA – SDB (1937 – 1956), italiano que em 1932 havia sido nomeado Inspetor do Brasil Norte (Recife). Uma de suas características foi “a simplicidade de trato e da vida, unida a uma bondade de coração inesgotável e um espírito de sacrifício excepcional”.
Conforme os registros da Missão salesiana em Mato Grosso, Dom José “fez do seu episcopado a imensidade de uma Prelazia de 175 mil quilômetros quadrados que percorria a cavalo várias vezes ao ano, com especial dedicação e acompanhamento aos índios Bororo”. Por volta de 1938 a população da prelazia aumentara para 60.000 habitantes, vinte vezes maior em apenas 13 anos, com grande número de garimpeiros e lavradores.
Também aumentou a população indígena com a presença de Xavantes e Carajás, ao lado dos Bororos que já habitavam a região, motivo pelo qual foram criadas mais três missões indígenas. Com o crescimento populacional, a prelazia criou várias novas paróquias, passando a contar, no ano de 1938, com 07 paróquias, 22 igrejas, 03 colégios, 02 colégios indígenas e uma escola paroquial. Para atender a todos os fiéis a prelazia contava apenas com 12 padres (dois deles com mais de setenta anos), 08 irmãos coadjutores, 04 clérigos e 19 irmãs (“pessoal na sua maioria cansado, velho, doente e desanimado, convencido de ser abandonado pelos superiores”).
Apesar das adversidades, a prelazia contava com paróquias nos centros mais importantes: Lageado, Santa Rita do Araguaia, Poxoréo, Araguaiana, Meruri, Sangradouro e Santa Rita. Conforme documento do Arquivo da Diocese de Guiratinga, Dom José foi o responsável pela construção da Matriz de Guiratinga e a Igreja São José, em Sangradouro.Devido à escassez de padres, muitos dos trabalhos eram realizados pelas Irmãs Filhas de Maria Auxiliadora, por moças católicas associadas às Irmãs; por Associações religiosas e Mulheres da Ação Católica Feminina. De acordo com o Relatório da Missão salesiana, a Prelazia do registro do Araguaia atendia aos povos Bororo de duas colônias (Sangradouro e Meruri), quatro colégios, dois Dispensários medicais e uma Missão Volante. Quanto aos povos indígenas Carajás e Xavantes, o atendimento foi realizado com muitas dificuldades tanto no acesso a eles quanto na contração de doenças devido à localização das aldeias. Dom José permaneceu na Prelazia até a sua morte, em 1956.
No período de 1956 a 1992, a região de Guiratinga foi pastoreada por DOM CAMILO FARESIN-SDB, originário de Maragnole di Breganze, que desde o início se dedicou à evangelização, enfrentando todas as dificuldades de uma época em que havia poucas estradas e precárias condições de deslocamento. De acordo com dados da Fundação Camillo Faresin, Dom Camilo “deslocava-se em braço a motor sobre rios grandiosos, em Jeep ou em caminhão por caminhos de pó e lama, interrompidos por rochas íngremes ou por arvores desmatadas, pontes improvisadas formadas por vigas instáveis, chamados de “mataburros”.
Dom Camilo assumiu a Prelazia do Registro do Araguaia em 1956 e ali permaneceu até o ano de 1969 quando ocorreu uma reconfiguração nas prelazias de Mato Grosso devido ao crescimento de algumas cidades e às novas necessidades de atendimento aos fiéis. Deste modo, em 27 de maio de 1969 o Papa Paulo VI transferiu a sede para a cidade de Guiratinga, passando a denominar-se Prelazia de Guiratinga e Dom Camilo foi designado como seu primeiro bispo Prelado.
Em 03 de outubro de 1981, pela Bula “Institutionis Propositum” do Papa João Paulo II, a prelazia foi elevada à condição de Diocese de Guiratinga, e Dom Camilo foi designado como primeiro bispo Diocesano até o ano de 1992, ou seja, esteve à frente da Prelazia/Diocese de Guratinga por trinta e seis anos.
Nesse período, D. Camilo Faresin realizou várias obras na Diocese de Guiratinga: constituiu as paróquias de D. Aquino (1960), Tesouro (1962), Torixoréo (1971), Primavera do leste (1982) e Araguainha(1986). Contribuiu, de forma decisiva, na criação do hospital Santa Maria bertila, de escolas, do oratório, do colégio Luis Orione, de igrejas,d a catedral, da casa de repouso Gaetana Sterni, da casa dos médicos e dos funcionários além de inúmeras outras iniciativas realizadas e conclusas ao longo dos anos.

Em novembro de 1991 DOM JOSÉ FORALOSSO (1992 – 1999) foi nomeado bispo da Diocese de Guiratinga. Italiano, fez a sua preparação para o ministério presbiteral em Roma, onde professou como religioso Salesiano. Em sua congregação, colaborou por alguns anos na formação e na pastoral paroquial. Transferido para o Brasil, atuou, por mais de vinte anos, em diversas paróquias. Em 1991, foi nomeado pelo papa João Paulo II como bispo da Diocese de Guiratinga (MT), onde esteve até o ano de 1999 .
De acordo com dados da Pastoral familiar-CNBB, Dom José havia dedicado especial atenção a esta pastoral, sendo um dos fundadores e animadores da pastoral familiar em Mato Grosso e na cidade de Guiratinga. Seu lema episcopal “Ut vitam habeant” (Para que tenham vida) resume a dedicação com que serviu à Igreja em frentes desafiadoras da ação evangelizadora.
Quando assumiu a Diocese Dom José Foralosso se preocupou em organizar a parte documental, inclusive emitindo Decretos de ereção canônico de todas as paróquias da Diocese devido à perda dos documentos originais. Dedicou especial atenção aos registros dos dados mais importantes da Diocese, tanto por meio de recortes de jornais quanto de fotografias. Retomou a prática do Livro Tombo com preciosos registros das atividades desenvolvidas na Diocese. Nos registros deixados por D. José é possível perceber a sua preocupação com as questões sociais, como ele mesmo destaca: “é preciso estirpar os subprodutos da cultura garimpeira: o alcoolismo, a prostituição e a violência”. Em 1999 constituiu a paróquia de Jarudore e neste mesmo ano Dom José foi transferido para Marabá, no Pará. Após a saída de Dom José, o padre Guiomar José de Almeida assumiu a Diocese na condição de Administrador Diocesano até 02 de dezembro de 2001.

No período de 2001 a 2007 a Diocese de Guiratinga teve como bispo DOM SEBASTIÃO ASSIS DE FIGUEIREDO, frei franciscano, vigário provincial da Vice-Província e pároco da Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Rondonópolis, quando recebeu a nomeação ao episcopado pelo Papa João Paulo II, em 29 de agosto de 2001. Foi ordenado bispo no dia 15 de novembro de 2001, também em Rondonópolis. Com o lema: “Senhor, estou aqui”, Dom Sebastião conduziu os trabalhos da Diocese de Guiratinga com dedicação e simplicidade e especial atenção às famílias.
Durante seu bispado, Dom Sebastião esteve muito presente em todos os municípios, distritos e comunidades que formam a Diocese, nos períodos do Sacramento da Crisma, nos festejos de São João e outros eventos das Paróquias, além de desenvolver importante trabalho na presidência da diretoria do Hospital e Maternidade São João Batista em Poxoréo. Enfrentou muitas dificuldades em relação à complicada situação em que se encontrava o Hospital Santa Maria Bertila, criado pelo bispo D. Camilo, devido aos atrasos no pagamento de pessoal. Após muitas tentativas junto ao poder público foi realizada a venda do hospital .
De acordo com relatório elaborado por Dom Sebastião, a Diocese de Guiratinga, desde o seu início, contou com a colaboração de padres salesianos e diocesanos. Em 1998 chegaram os freis Capuchinhos em Primavera do Leste e em 2002, os freis franciscanos. Várias congregações religiosas compõem a história da Diocese de Guiratinga: Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora- Salesianas- desde o início da Diocese/Prelazia; Irmãs Catequistas Franciscanas, desde a década de 1960; Irmãs da Divina Vontade, Divina Providência e Claretianas, na década de 1970; Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida e Ursulinas do Coração de Jesus Agonizante, na década de 1980. Na década de 1990 chegaram as Dominicanas da Beata Imelda; as Ursulinas Filhas de Maria Imaculada; as Beneditinas da Divina Providência; as Irmãs da Copiosa Redenção de Maria Mãe da Divina Graça e as Dominicanas de Santa Catarina.
Em 2007 Dom Sebastião estava também na condição de presidente do Regional Oeste 2 da CNBB quando teve sua vida ceifada em um trágico acidente automobilístico.
Com o falecimento de Dom Sebastião, foi designado para assumir a Diocese de Guiratinga o reverendo DEREK JOHN CHRISTOPHER BYRNE, S.P.S (2007-2014), até então pároco da paróquia de Santo Antônio, na Diocese de Juína. Dom Derek nasceu em Dublin, cursou e completou seus estudos filosóficos e teológicos na Irlanda, onde fez cursos de aperfeiçoamento em Teologia e em diversos setores da cultura. Enviado para o Brasil, foi vigário, pároco e decano da diocese de Osasco de 1974 a 1980, quando se transferiu para os Estados Unidos. Permaneceu nos EUA por dez anos, até 1990. Em 2002 retornou ao Brasil e atuou como pároco, economista e membro do Colégio dos Consultores da paróquia de Santo Antonio, na diocese de Juína. Dom Derek John é membro da Sociedade de São Patrício para as Missões Estrangeiras (SPS), onde professou votos religiosos em 1º de outubro de 1969.
Foi nomeado bispo pelo papa emérito Bento XVI em 24 de dezembro de 2008, sendo ordenado em 22 de março de 2009. Escolheu como lema episcopal “Alegrai-vos no Senhor”. Atuou como bispo da Diocese de Guiratinga desde 2009 onde realizou inúmeras palestras, coordenou reuniões e encontros diocesanos e atendeu a todas as comunidades da Diocese.
Devido ao crescimento acelerado da cidade de Primavera do Leste e das dificuldades de pastorear uma Diocese tão extensa, foi feita uma reorganização nas Dioceses do sul de Mato Grosso e Dom Derek foi designado bispo da Diocese de Primavera do Leste – Paranatinga. Assim, a partir do dia 24 de agosto de 2014, cinco paróquias da extinta Diocese de Guiratinga passaram a compor a Diocese de Rondonópolis-Guiratinga, tendo como bispo Diocesano após a reorganização, Dom Juventino Kestering, que já era o bispo da Diocese de Rondonópolis.
Com a renomeação e remodelação das Dioceses, iniciou-se uma nova etapa na história da Igreja Católica nessa região de Mato Grosso, com nova configuração geográfica e um olhar mais voltado para os novos desafios de uma evangelização pautada numa igreja “em saída” que pretende “ir ao encontro” das pessoas e partilhar a alegria do amor de Jesus como missionários de um novo tempo.