Estimados irmãos e irmãs, nossa diocese se alegra pela ordenação presbiteral do Diác. Andritony. Depois de cinco anos da última ordenação de um padre em nossa Igreja local, hoje tenho a graça de presidir a primeira ordenação presbiteral. Creio que será o primeiro de muitos que irei ordenar aqui em nossa diocese. Caro Diác. Andritony, hoje nosso presbitério está aqui para te acolher como novo membro. Você fará parte deste corpo presbiteral que tem uma união sacramental. Caminha, pois, conosco em espirito de comunhão. Você agora é um dos nossos. Você sabe, somos poucos, precisamos nos amar muito. E todo este corpo presbiteral está a serviço do povo santo de Deus. O presbitério é tua família. Nossa fraternidade presbiteral está unida por vínculo sacramental. Cultiva a iniciativa de ir ao encontro dos padres e os padres irem ao teu encontro, esta é uma via de mão dupla que nos ajuda vencer tentação ao isolamento.
Acolho teus pais, Gumercindo e Sirley, tua Irmã Ana Carolina, teus parentes, amigos e amigas, os fiéis cristãos leigos e leigas que fostes conhecendo ao longo do caminho, as paróquias e comunidades aqui presentes, a Dom Derick, bispo da Diocese de Primavera do Leste que te ordenou diácono, aos nossos treze seminaristas, aos religiosos e religiosas de nossa diocese e as pessoas que vieram de outras localidades. Sejam todos bem-vindos.
Iluminados pela Palavra de Deus e pelo rito de ordenação de um presbítero, quero refletir apenas dois pontos: o ser e o fazer do padre diocesano, ou seja, a pessoa e a atuação missionária dos padres. São duas realidades inseparáveis, pois o fazer decorre de nosso ser. Caro Diac. Andritony, uma vez padre, sempre serás padre. Ninguém mais pode retirar este dom dado pelo Espírito Santo, através do sacramento da ordem. A tua ordenação hoje imprimirá um caráter indelével. Uma marca te acompanhará até o fim.
O Evangelho de João escolhido para hoje ilumina nosso ser presbítero. Jesus fala aos seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça”(Jo15, 16). Em nosso ser padre no início de tudo há a experiência de sermos escolhidos e amados por Deus. Não te esqueças deste primeiro amor e volte a ele muitas vezes no exercício do ministério. “Como o Pai me amou, assim também eu vos amei”(Jo15,9). A vocação é um caso de amor que nasce do encontro com a pessoa de Jesus Cristo. Deus transborda em amor por cada um de nós. Aqui está nossa experiência fundante que configura nosso ser. Somos amados por Deus. Deus não veio condenar, mas nos salvar, libertar e curar, em vista de nosso serviço ao Povo de Deus.
O Papa Francisco na mensagem para o Dia Mundial de oração pelas vocações no domingo passado, falou da iniciativa Divina do chamado: “O chamado de Deus é um dom gratuito que espera nossa resposta. A vocação é uma «combinação entre a escolha divina e a liberdade humana», uma relação dinâmica e estimulante que tem como interlocutores Deus e o coração humano”.
Assim, creio que aconteceu e continua acontecendo contigo Diác. Andritony. A proximidade com o Senhor e o seu povo vai plasmando teu coração de pastor. Já experimentastes a iniciativa do chamado Divino e a fragilidade de tua resposta humana. Hoje irás te prostrar no chão, reconhecendo tua fragilidade e vulnerabilidade. Não te esqueças, Deus te amou, nos amou por primeiro e ficou esperando de nossa parte uma resposta.
Outra realidade que forma nosso ser presbítero é nossa proximidade com o Povo de Deus. Proximidade com todas as pessoas, de modo preferencial os mais pobres e vulneráveis, a exemplo de Jesus o Bom Pastor. Sejas amigo e próximo daqueles que não podem te dar a recompensa material. Recordo um retiro que participei quando era padre na Arquidiocese de Porto Alegre/RS. O pregador nos perguntou: Vocês têm amigos pobres? Escreva três nomes de pobres que vocês frequentam a casa e são realmente próximos. Foi para mim, impactante esta pergunta. Esta proximidade com os mais pobres, pecadores, doentes, os que vivem no cárcere, nos formam o coração de pastores. O Povo de Deus nos ensina, nos evangeliza. Te peço prezado diácono e daqui um pouco mais Padre Andritony, seja próximo dos mais pobres, sem excluir ninguém.
De nosso ser padre configurado a Jesus Cristo Profeta, Sacerdote e Pastor, decorre nossas atividades missionárias de ensinar, santificar e governar.
Primeiro, exercerás a função de profeta mestre da Palavra de Deus, procura antes de pregar aos outros a Palavra de Deus, pregar a ti mesmo o Evangelho de Jesus Cristo. Sejas um ouvinte assíduo da Palavra e incentiva nas comunidades o método da Leitura Orante da Bíblia. Aceitas o desafio de “Gritar o Evangelho com tua própria vida”. Procuras crer no que leres, ensinar o que creres e praticar o que ensinares. Anuncia com fé e coragem o Evangelho em sua totalidade e, como os profetas da Bíblia, denuncia as injustiças e o que fere a dignidade da pessoa humana da concepção até a morte natural. Sejas um padre profeta no anúncio do Evangelho e na denuncia dos pecados contra a pessoa e a casa comum.
Segundo, exercerás a função sacerdotal. Aqui falo do sacerdócio da nova aliança inaugurado por Cristo Jesus. Ele fez de sua vida uma oferta agradável a Deus. Uma entrega total. Ele é a vítima, altar e cordeiro. Ele nos ensina que o sacerdócio é serviço. Somos ordenados não para nós mesmo ou um pequeno grupo e sim em função do povo de Deus. Esta não é uma tarefa fácil, estar sempre pronto para lavar os pés, perdoar, amar e servir. Tens a missão de santificar o Povo fiel de Deus. “Toma consciência do que fazes e põe em prática o que celebras”. Terás a alegria de incorporar os seres humano ao povo de Deus pelo Batismo, perdoar os pecados em nome de Cristo e da Igreja pelo sacramento da penitência, assistir aos matrimônios, confortar os doentes com a sagrada unção, presidir a eucaristia e oferecer nas diversas horas do dia louvores a Deus através da liturgia das horas.
Finalmente, participarás da missão de Cristo Pastor. Procura reunir os fiéis numa só família em espírito de comunhão e sinodalidade. Estejas sempre em comunhão com o Papa, a CNBB, o bispo, o presbitério, os conselhos e todas as instâncias de comunhão e participação. Não permitas que se alimente uma pastoral paralela quando estiveres a frente de uma paróquia. Siga os orientações da diocese. Sejas um promotor de comunhão, diante das diversidades de carismas e ministérios. Tenhas sempre diante dos olhos a imagem do Bom Pastor, que não veio para ser servido, mas para servir, e para buscar e salvar o que estava perdido.
Siga com amor e ardor teu lema de vida: “O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra”. Conto contigo como colaborador da ordem episcopal e também podes contar comigo.
Que Nossa Senhora Mães de Deus e São José Esposo da Virgem Maria te conceda um ministério fecundo e abençoado.

Dom Maurício da Silva Jardim
Bispo da Diocese de Rondonópolis Guiratinga