Prezados irmãos e irmãs, estamos no quarto domingo da quaresma, caminhando para Páscoa de Jesus.
O vocábulo mártir vem do grego màrtys que significa “testemunha”. São pessoas que em suas vidas fizeram a experiência do encontro apaixonado com Jesus Cristo e se tornaram suas testemunhas, seguidoras, discípulas.
O primeiro martírio cristão foi de Santo Estêvão. Um humilde diácono servidor das mesas dos Apóstolos. Dos doze apóstolos, dez foram martirizados, junto com tantos cristãos nas perseguições do império romano nos primeiros séculos. Ao longo de toda história do cristianismo, também hoje, há cristãos perseguidos e mortos por seguirem Jesus Cristo e por defenderem a dignidade da vida humana da concepção até a morte natural. São papas, bispos, padres, consagrados, consagradas, cristãos leigos e leigas que receberam a coroa do martírio. São homens e mulheres que por causa de sua radicalidade na fé e de permanecerem fiéis até o fim, foram perseguidos e martirizados.
Tertuliano, um dos padres da Igreja, dizia que “o sangue dos mártires é a semente dos novos cristãos”. De fato, sem qualquer dúvida, esta semente produziu seus frutos ao longo da história da Igreja. É precisamente esse sangue derramado no amor e por amor, pela própria fé que cria uma ponte entre todas as regiões do mundo. É o sangue de Cristo o elo entre as realidades, que ainda hoje se manifesta na pessoa de nossos irmãos e irmãs, vítimas de perseguição violenta, da intolerância religiosa, da condenação e do martírio daqueles que se colocam em defesa da dignidade humana dos mais pobres.
Como Jesus, os mártires também são perseguidos, julgados, condenados e mortos. A perseguição se torna se consequência de fidelidade ao Evangelho. “Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa” (cf. Mt 5, 11-16). Os cristãos juntos com os apóstolos se reuniam as escondidas nas catacumbas em Roma, e muitas vezes encontravam no silêncio e anonimato a forma mais eloquente de testemunhar a fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo. Mesmo perseguidos, os mártires expressam a liberdade interior de maneira mais elevada e, no dom de si mesmos, mostram-nos que é possível transcender os próprios interesses e erradicar em si toda forma de egoísmo.
Os mártires, são testemunhas de esperança e paz, são aqueles e aquelas que, com sua extrema doação, testemunham a fidelidade ao Evangelho da Cruz de Jesus Cristo e do seu Reino. Olham para realidade e descobrem que o mundo pode ser melhor. Que a violência, as mortes, o ódio, as injustiças e as guerras podem cessar. Que a cultura da paz, da fraternidade é possível. O mártir canta a vitória da vida sobre a morte e o pecado. O mártir entendeu que a última palavra não é a morte e sim a vida do ressuscitado que vence a morte.
O sangue dos Mártires é o sangue que ao cair no chão traz frutos de novos céus e nova terra. Não há amor maior que dar a vida pelos irmãos e irmãs. O martírio se torna um grande impulso para que o Evangelho se propague.
Os mártires além de serem profetas da esperança, não tem medo de denunciar as injustiças que ferem a dignidade humana. Tem a coragem de se colocar ao lado daqueles que não tem voz, a exemplo do mestre Jesus que veio para que “todos tenham vida e a tenham em plenitude.
Cito alguns desafios do tempo atual. É triste quando nossa sociedade permite que os idosos sejam descartados ou esquecidos, os jovens explorados, as crianças sejam abusadas sexualmente, ou ainda impedidas de nascer pela prática do aborto. É triste quando fechamos os olhos as pessoas em situação de rua ou ficamos indiferentes diante do ódio e da morte de pessoas que vivem a margem ou as mulheres que ainda sofrem violência dentro de suas casas. É lamentável que nós cristãos vamos assimilando esta cultura da indiferença, do descarte e do desrespeito com a dignidade humana. É aqui que o nosso testemunho deve se manifestar concretamente para ser voz daqueles que não tem.
Se olharmos cuidadosamente para o mundo ao nosso redor, parece que em muitos lugares o egoísmo e a indiferença estão se espalhando. Sejamos nós, testemunhas da solidariedade, da paz e da fraternidade, pois a fé não nos tira do mundo. A nossa espiritualidade cristã não separa de forma alguma a fé da vida, pelo contrário, une e integra. O amor a Deus na tradição bíblica, nunca está dissociado do amor aos irmãos e irmãs porque “somos todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Um amor apaixonado, desinteressado e livre, é capaz de ir ao encontro dos irmãos e irmãs, se fazer próximo dos mais pobres e sofredores para curar e ser sinal da misericórdia de Deus na vida.
Jesus através dos mártires de ontem e de hoje nos mostra que a melhor resposta é o amor, a compaixão. Ele veio ao mundo não para condenar, mas para que o mundo seja salvo por meio Dele. Deus se auto proclama como “lento para ira e rico em misericórdia e bondade” (Ex34,5-6). De fato, é assim que Deus se comporta contra os inimigos. Nossa melhor resposta sempre será o amor, a ternura, a bondade, o perdão, a fraternidade, a amizade social.
Que o testemunho dos mártires, nos ajudem a vivência de uma fé madura, disposta a entrega livre e total da própria vida.
Que a Santíssima Virgem, Mãe dos Mártires, ilumine a caminhada de nossa Igreja local para ser fiel a missão evangelizadora até os confins do mundo.

Dom Maurício da Silva Jardim
Bispo de Rondonópolis-Guiratinga